segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Os jogos também podem ajudar no desenvolvimento do raciocinio dos jovens.

Muitos jovens se desenvolvem melhor a ajuda dos jogos, o seu raciocinio estratégico e a velocidade com a qual raciocina vai desenvolvendo rapidamente.
Os números acompanham a produção de uma geração que, se na década de 80 brincou com os velhos Odyssey e Atari, nos anos 90 e 2000 decidiram se especializar no assunto. E se é verdade que vive melhor quem trabalha com o que gosta, esse pessoal está sorrindo à toa. “Eu sempre gostei de games e sempre corri um pouco pra área. Quando fui pra publicidade, desenvolvi melhor isso”, começa Eduardo Novais sobre quando os games passaram a fazer parte do horário de trabalho. Ele conta que uma monitoria, ainda na faculdade, foi a porta de entrada para a pesquisa em jogos educacionais que vem desenvolvendo desde então. “É uma forma interessante de transmitir conteúdos para uma geração que tem o nível de atividade muito alto to. E ainda alguns problemas de educação. Achei interessante casar o divertimento com o aprendizado”, conta ele.
Concluído o curso universitário, Eduardo mantinha seus encontros com amigos - para jogar Guitar Hero, por exemplo, quando foi convidado para fazer parte do corpo de professores de um projeto que a Fundação de Cultura, Esporte, e Turismo de Fortaleza, Funcet, propôs à duas universidade da cidade. “Temos de 20 a 30 alunos. Na primeira etapa do projeto, que foi feito no ano passado, desenvolvemos três jogos que já estão em fase avançada. Outros dois estão também adiantados. Nos dois projetos trabalhamos basicamente a questão educacional”, explica.
“Quando se fala de jogos, existe uma questão cultural sendo levantada, informações da cultura de onde vem esse jogo. É muito importante que a gente produza jogos e produtos de lazer no nosso país para o nosso público. E é importante que possamos levar também para outros países”, pontua a pesquisadora Roseli de Deus Lopes. Professora da Escola Politécnica da USP e vice-coordenadora do Laboratório de Sistemas Integráveis, também da USP. “Com o fortalecimento do software livre, é possível hoje, com poucos investimentos, montar um negócio. O essencial, além do conhecimento técnico, claro, é a criatividade. E o brasileiro é extremamente criativo”, continua.
Guilherme Kujawski, do Itaulab, uma das empresas mais antigas no país especializada em desenvolvimento de games, escolhe outro viés na problemática dos games. “Hoje o principal desafio não está no desenvolvimento de jogos com uma qualidade gráfica excepcional; hoje o desafio está nas narrativas. Como desenvolver histórias que não são lineares, que dependam de variáveis quase infinitas de ação e que levem em consideração os últimos avanços da Inteligência Artificial?”.
Enquanto a discussão se desenrola no meio acadêmico, a moçada lota as lan houses, inclusive nos feriados. No bairro Pirambu, a Leohouse, por exemplo, estava lotada no Sete de Setembro. “Aqui o pessoal vem mais para jogar. Pesquisa e e outras coisas da internet não é muito o que eles procuram”, conta Denis Almeida, que trabalha na lan. Jogos como Line Age e Ragnarok são preferência, enquanto os nacionais continuam na fila de espera.

"O universo dos jogos eletrônicos mexe com o imaginário de milhares de crianças"


"Não importa se é dia ou noite, o tempo passa e eles nem percebem. A adrenalina é mais forte que o cansaço físico. “Só mais uma, só mais uma”, eles prometem a si próprios e assim imergem em um universo tridimensional onde quase tudo é possível. A diversão, por excelência, dos filhos do século XXI é mesmo o videogame. Os personagens imaginários invadiram as casas de meninos e meninas dotados de seus “plays”, para desgosto dos pais, e é difícil colocá-los para fora. Então, como não é possível vencê-los? Resta juntar-se a eles, ou melhor, tornar os games um aliado no crescimento dos filhos e não o vilão de uma geração.
Pesquisadores de diversas áreas se dedicam na atualidade a investigar os resultados da experiência de jogar videogame pela crianças. Ao lado de teses fatalistas e preconceituosas que colocam os games como um fator de emburrecimento, surgem visões bem mais otimistas sobre o tema. Em Fortaleza, a terapeuta ocupacional Marilene Munguba constatou que os pequenos aficionados pelos jogos desenvolvem habilidades de aprendizado interessantes.
Acompanhando o dia-a-dia de meninos e meninas de classes sociais diferentes nas locadoras de videogame - na época da pesquisa, 2000, as lan houses não eram tão populares - ela pôde perceber que a principal característica despertada pelo ato de jogar é a capacidade de aprender através da vivência com o jogo. Em vez de ler manuais ou instruções, os “game boys” aprendem as regras do jogo da melhor maneira, jogando. “Eles desenvolvem uma meta cognição, é o aprender, aprendendo. Se ele perde o jogo, ele já sabe como errou e, da próxima vez, não cometerá mais o mesmo erro”, observa a professora.
Além do domínio da linguagem do game, os jovens apreendem outros conhecimentos também. Ícaro Vinícius Melo da Silva, de 13 anos, aprendeu mais inglês com os jogos de videogame do que em sala de aula. Como as informações sobre muitos jogos são na língua inglesa ele se viu interessado em aprender mais o idioma e o resultado foram notas melhores no colégio. O poder de concentração é outro estímulo gerado pelos games. Como explica Marilene Mumguba, há crianças que ficam mais atentas em sala de aula, graças à atenção exigida pelos jogos.
Que o diga Ícaro, tão absorto nos mundos imaginários gerados pelo seu “playstation 2”, que ignora a presença de qualquer pessoa, a não ser que seja um adversário, é claro. Em sala de aula, a atitude é a mesma, olho fixo na professora e ouvido atento nas explicações, a atenção é quase 100%, porque ninguém é perfeito! Mas para que o menino atinja esse nível de imersão, ele precisa se dedicar a horas de game e é aí que mora o problema. Até uma hora de jogo é estimulante, depois, a atividade pode começar a ser prejudicial. Além dos danos físicos, como postura, olhos ressecados e dor de cabeça, as cinco ou mais horas dedicadas à experiência podem conduzir à obesidade infantil.
Biscoitos e outros produtos industrializados e recheados de calorias podem ser consumidos simultaneamente a uma partida emocionante. É nessa hora que deve entrar em cena os personagens mais difíceis de vencer: os pais. A orientação e a conversa são as principais armas de pais e mães para combater o vício dos games. “O vício se cria quando a família está ausente. Quando a criança se nega a falar com os pais é porque eles estão falando uma outra linguagem que não é mais a da criança”, observa a professora. A linguagem da geração Internet, videogame, câmera digital e celular é completamente diferente dos filhos da televisão ou de pessoas acostumadas com outros paradigmas sociais e tecnológicos. A presença dos PCs no cotidiano de crianças e adolescentes e a expansão das lan houses proporcionam a esse público uma nova forma de sociabilidade. Os jogos em rede levam os players a se relacionar com centenas e até milhares de pessoas de diversas partes do mundo. “O novo paradigma de relações sociais não é mais presencial. Os jovens se relacionam com muito mais gente, só que virtualmente”, destaca Marilene Munguba. Além da interação virtual, os jogos se tornam fator de identificação no mundo social. Na escola em Ícaro Vinícius, o grupo que troca estratégias de jogos já soma para mais de 40 pessoas. Para que todas essas potencialidades dos games possam ser trabalhadas é preciso orientação. Uma hora de jogo, intercalada com outras atividades lúdicas e educativas é suficiente para estimular a aprendizagem, motivação e atenção dos jogadores, que precisam, sobretudo, da família para guia-los nessa aventura ou eles podem se perder para sempre nas interfaces digitais. É preciso saber a hora de dizer: game over!"